Casa de Oxumarê festeja tombamento pelo Iphan e ganha placa comemorativa.
Com 180 anos de existência, o terreiro de candomblé Ilê Axé Oxumarê, localizado no
bairro da Federação, em Salvador, ganhou nesta quarta-feira (15) a
placa comemorativa do reconhecimento do espaço como patrimônio do
Brasil. Um dos mais antigos centros de culto afro-brasileiro, ele foi
tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan) em novembro de 2013.
A cerimônia teve a presença de religiosos e autoridades baianas e
nacionais e filhos e filhas-de-santo da casa. Prestigiaram o momento,
comemorado com muito axé, o governador Jaques Wagner; a primeira-dama do
Estado, Fátima Mendonça; a ministra da Cultura, Marta Suplicy; a
ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial,
Luiza Bairros; o secretário estadual de Promoção da Igualdade Racial,
Elias Sampaio; dentre outras autoridades e convidados.
Para o governador, é difícil mensurar a importância do tombamento de um
terreiro como o Casa de Oxumarê, que reúne pessoas dedicadas à
manutenção da religião e da cultura africana, promovendo dentro da Casa e
fora dela a igualdade racial, a diversidade religiosa e a paz como
instrumentos para uma sociedade pacífica e harmoniosa. “E agora este
terreiro tem este reconhecimento do Iphan e do Ministério da Cultura,
que tornam esta casa um patrimônio histórico do Brasil. Para a Bahia é
algo grandioso”.
O babalorixá do Ilê Axé Oxumaré, Silvanilton Encarnação da Mata, o Baba
Pecê, afirma que o tombamento é um reconhecimento nacional de um esforço
cotidiano do terreiro e dos seus frequentadores para quebrar
preconceitos e disseminar o respeito entre as religiões. Ressaltou, no
entanto, que é mais uma etapa vencida de uma luta que está longe de
terminar. “Batalhamos dez anos para que tivessemos esse reconhecimento.
Somos, assim como muitos outros terreiros, um espaço que tem o objetivo
de acolher a todos, de ajudar, de incentivar e dar acalento. Nosso
cotidiano, nosso dia-a-dia é a continuação da resistência do povo negro,
do povo que teve papel fundamental na civilização de nosso país. Dentro
dessa casa, todos os dias discutimos como combater o racismo, como
preservar a cultura afro-brasileira.E fazemos isso por amor ao próximo. A
nossa luta, na verdade, está recomeçando”.
Babá Pecê espera que o tombamento incentive o Iphan a tornar patrimônio
nacional outros espaços religiosos, que ao longo dos anos exercem
atividades e ações que coloaboram com a promoção da igualdade racial, da
união e da fraternidade.
O secretário Elias Sampaio lembrou que esta é uma demonstração de que o
governo federal, em parceria com o governo estadual, sempre teve
conhecimento da importância dos terreiros de candomblé na construção de
uma sociedade sem desigualdade racial e sem intolerância religiosa. “O
tombamento é um reflexo do esforço que temos pela garantia de direitos e
pela valorização da cultura afro-brasileira, cujo papel civilizatório
no nosso país foi fundamental. Muito além da religião, são espaços que
desenvolvem ações sociais visando promover a igualdade”, afirmou.
Baba Pecé destaca, por exemplo, o compromisso social como slogan e
afirma que todos na casa estão cientes dos seus papéis político-social.
Todo ano são realizadas diversas atividades como oficinas, debates e
diálogos sobre temas referentes ao promoção da igualdade racial,
valorizaçao da cultura afro-brasileira e ensino da História da Àfrica
para crianças. Em 2013, por exemplo, ocorreu no Ilê Axé Oxumaré uma roda
de diálogos sobre o planejamento da cidade e a conjuntura econômica do
país. Os debates fizeram parte do Curso Participação Cidadã e Controle
Social, organizado pelo Movimento Vozes de Salvador e a Rede de
Profissionais Solidários pela Cidadania.
De acordo com Babá Pecê todos precisam ficar atentos sobre o que
acontece na sua cidade e por isso aconcedeu autorização para que os
debates ocorressem no espaço. “Babá Pecê é um sacerdote que tem uma
visão macro. Ele traz para o candomblé discussões que são contemporâneas
porque valoriza o conhecimento como instrumento de mudança”, declarou
Ordep Serra, em um dos ciclos ocorridos.
A ministra Marta Suplicy disse que o tombamento é um processo complexo.
“Este terreiro é algo que vai além da religião, faz parte da história do
Brasil, é um lugar de resistência da cultura afrobrasileira”. O Ylê Axé
Oxumarê é um dos sete terreiros já tombados no Brasil, dos quais seis
estão na Bahia – Casa Branca, Ilê Axé Opô Afonjá, Gantois, Alaketu e
Bate-folha – e um em São Luís do Maranhão, o Casa das Minas Jejê.
oxumare alegriaAdeptos do candomblé, filhas e filhos-de-santo do Oxumarê
festejam o tombamento do terreiro que existe há mais de 180 anos
Legado ancestral
O Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó, conhecido como Casa de Òsùmàrè, foi
fundado há 180 anos e há 110 está localizado na Federação, sendo um dos
mais antigos e tradicionais terreiros de candomblé da Bahia. Ao longo de
sua história, contribuiu de modo significativo para preservar e
difundir a cultura africana no Brasil.
Guardiã e detentora de tradição milenar, a casa perpetua o legado
ancestral do culto aos Òrìsà, lançando as sementes do que hoje
representa o candomblé para o país e o mundo. Faz parte do panteão das
casas matrizes responsáveis pela construção da religiosidade
afro-brasileira.
A história da Casa de Òsùmàrè remete à formação do candomblé no Brasil.
Sua origem remonta ao início do século 19 e foi marcada pela luta e
resistência de africanos escravizados que, obrigados a abandonarem suas
terras e laços familiares, não renunciaram a sua cultura e fé.
Em 15 de abril de 2002, a Fundação Cultural Palmares reconheceu a Casa
de Òsùmàrè como território cultural afro-brasileiro, atestando sua
permanente contribuição pela preservação da história dos povos africanos
no Brasil. Dois anos depois, em 15 de dezembro de 2004, foi registrado
em livro de tombo do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da
Bahia (Ipac) como patrimônio material e imaterial do Estado.
Fonte: http://www.portalafricas.com.br/casa-de-oxumare-festeja-tombamento-pelo-iphan-e-ganha-placa-comemorativa/#.UtgOKNKwJSQ