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quinta-feira, 14 de março de 2013

Carmen da Conceição Nazaré de Oliveira, Mãe Carmen do Gantois

 

No dia posterior a eleição do Papa Francisco, o Primeiro Pontífice da Igreja Católica, nascido na America Latina (oportunidade na qual acontece também pela primeira vez na história dessa mesma Igreja, a eleição de um franciscano para o cargo), venho dar continuidade a série de intervenções que iniciei recentemente, nas quais venho citando mulheres as quais se constituem importantes lideranças políticas, em função da autenticidade e sabedoria demonstradas através das suas práticas diárias, sempre pautadas pela prudência, imparcialidade, amôr e pela determinação na busca dos seus objetivos, os quais, invariavelmente, envolvem o bem estar do seu próximo.

Na Bahia, como é característica do projeto europeizante que vem sendo tocado pelas elites brasileiras nos últimos 512 anos da nossa história, o Candomblé, tem sido ferozmente combatido e alvo de tentativas institucionalizadas de destruição dos seus valores,taxados como evidencias de “primitivismo e atraso”. É oportuno enfatizar o desenrolar na prática política diária de um projeto de galvanização do referido caráter institucional da discriminação contra o Candomblé, enquanto símbolo das Religiões de Matrizes Africanas, a partir de formações corporativas nas assembleias legislativas nas três esferas de decisão regulamentar da vida nacional, com raras e louváveis exceções. Nesse cenário, acreditem: a tarefa de conduzir o Candomblé “por esse mar de longo”, adicionando-lhe prestígio incontestável é tarefa para poucos. É partindo da plataforma intelectual composta por essas observações que mergulho na história dessa manifestação religiosa-cultural da qual sou Ministro, e pedindo a benção aos meus mais velhos,

Sua bênção meu Doté Amilton de Sogbo!: Vodun Aó!

Sua bênção Mãe Carmen!

Sua bênção minha Madrina Mãe Flor!

Sua bênção minha Madirna Mãe Deca !

A bênção Egbon mi Mônica Millet!

A bênção Egbon mi Jaime Sodré!

A bênção ao Todos!

e comento um pouco sobre a descendência instalada no Terreiro do Gantois (do qual sou amigo e admirador antigo) a qual destaco, sem diminuir o igual brilho de muitas outras descendencias em outras agremiações culturais-religiosas, conhecidas ou anônimas.

A tarefa que o Papa Francisco tem pela frente, de “recuperar o prestígio da Igreja Católica no mundo”, será marcada pelo caminho espinhoso da busca da conciliação de, entre tantas vertentes, de poderosos interesses antagônicos, de opiniões conflitantes defendidas por casas de poder dentro de uma organização administrada por indivíduos afeitos ao saber acadêmico e à organização do poder político em larga escala, porém, defensores de agendas marcadas por interesses corporativos, e, talvez, distantes das propostas de evangelização pela espiritualização do homem, salvo raras e louváveis exceções. Por isso, Deus o ajude...!!!

Esse tipo de universo no qual o Papa Francisco adentrou ontem, 13 de março de 2013, na condição de líder, é, em escala reduzida, mas nem por isso menos complicada um espelho do universo característico de qualquer organização não tão grande, nas quais os seres humanos se associam para o exercício das suas práticas religioso-culrurais e o Candomblé não se constituiu exceção. Em função dessas características, seguramente, a baiana Carmem da Conceição Nazaré de Oliveira, ou melhor, Mãe Carmem do Gantois, tem lições de vida e conhecimentos em nível das necessidades protocolares comuns ao exercício vitorioso de uma liderança religiosa frutífera. Ou os leitores imaginam que reunir em um mesmo espaço pessoas de tão variados níveis da vida social do País em torno do serviço a “Orixá”, é tarefa fácil e pode ser tocada por leigos? É tarefa para privilegiados! Tem que ser exemplo de Fé, de Humildade, de Firmeza, de Maleabilidade,de Sabedoria e de Visão Política, e essas são algumas das características mais sólidas dessa Sacerdotisa, Mulher, Mãe, Guerreira e Política, no melhor sentido da terminologia.

Mãe Carmem de Oxalá é a Iyalorixá do Terreiro do Gantois, aqui na nossa cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Ela é a filha mais nova de Mãe Menininha do Gantois e a irmã caçula de Mãe Cleusa Millet (já falecida). Carmem foi iniciada no Candomblé para Oxalá, seu pai de cabeça, quando ainda era criança e desde então, não parou mais de se aprofundar nos estudos religiosos e fazer suas obrigações espirituais. É Ela quem repete o que apreendeu com sua mãe, a Ialorixá Maior Mãe Meninha do Gantois, que hoje vive no Orun, com relação aos “da casa” ou aos frequentadores da casa, poderosos ou humildes. “Não sei se é doutor ou PhD. Todos são filhos”, decreta, com a experiência vivenciada nos dois lados, de filha e agora de mãe, na vida e na religião – cujas fronteiras, em sua trajetória, estão mais que embaraçadas. Além das manifestações de afeto e respeito, ela foi agraciada pela UNESCO, em 2010, com a Medalha dos Cinco Continentes ou da Diversidade Cultural.

Segundo a sua filosofia de vida, “Não há futuro sem base no passado”, Esse parece ser o lema da ialorixá que se mostra rígida com os preceitos, devotada à família e cada vez mais atenta à vontade de Orixá.

Casou-se jovem e mesmo assim, continuou na religião e trouxe o marido para ela. Assumiu o posto de Iyalorixá do Gantois - Terreiro mais famoso do Brasil. Ela traz o segredo do Axé tendo ao seu lado suas duas filhas: Mãe Ângela de Oxum e Mãe Neli de Oxossi. Carmen nunca se afastou das obrigações espirituais nem do terreiro. Foi iniciada para Oxaguian (Oxalá jovem) aos 7 anos de idade e na infância costumava “brincar de candomblé”, fazendo vestimentas de plantas. E mal percebeu as brincadeiras virarem tarefas de adulto.

Mãe Carmen lídera o Ilê Ìyá Omi Àse Iyámasé, o Gantois, do mesmo trono de Menininha, entalhado com o símbolo da casa – uma sobreposição de ferramentas e elementos de vários orixás –, Mãe Carmen afirma: “A hierarquia é um fato”. Mas, quando se trata do posto que ocupa, garante: “Não sou vaidosa”.Pela sua própria trajetória e personalidade, não há espaço para vaidades dessa natureza. Há sim, a necessidade de muita atenção e firmeza. “É uma responsabilidade muito grande, é preciso estar não com os seis, mas os dez sentidos ligados. Eu sou exigente, às vezes chego a desenhar as coisas como devem ser feitas, seguindo a tradição, o legado”, estabelece.

Carinhos, faixas e títulos servem de conforto para quem teve de se conciliar com as incertezas internas, até enfrentar o desafio de assumir o posto que fora da mãe, uma decisão que demorou quatro anos para ser efetivada, em um período repleto de especulações e cobranças. No Ilê Ìyá Omi Àse Iyámasé, localizado no Alto do Gantois, bairro da Federação, desde 1849, a sucessão se dá por laços sanguíneos e a hierarquia segue a linhagem matriarcal: só às mulheres é permitida a direção do templo.

Sua benção minha Mãe Carmen!

*Esse post é uma homenagem a minha filha mais velha Maria das Graças (Gal) aniversariante de hoje, a minha esposa Solange, a minha filha Silvana, feita de Ossanhe,a sua Mãe Espiritual Araundê, (minha comadre), a minha prima Patrícia(ela sabe por que), a minhas primas Sara e Soráia, a minha (A bençao, minha comadre).

Referencias

  1. Mãe Carmen; Acesso: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3e_Carmem   (acessado em 14/03/2013);
  2. Santo forte; Brasileiros; Acesso: http://www.revistabrasileiros.com.br/2012/03/06/santo-forte/ (acessado em: 14/03/2013);
  3. 3. Imagem: Acesso: http://alexandrelomilodo.blogspot.com.br/2009/03/terreiro-do-gantoi...(acessado em 14/03/2013)

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