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sábado, 13 de junho de 2015

Segurança alimentar: desafio é garantir acesso dos povos tradicionais às políticas públicas

 

Última atualização em Sexta, 12 de Junho de 2015, 19h51

Edna Marajoara aprendeu com a avó o uso medicinal das plantas da Amazônia. Há mais de 20 anos, defende a preservação do conhecimento tradicional de sua comunidade, como a técnica milenar de extração artesanal do óleo da andiroba. Representante da Cooperativa Ecológica de Mulheres Extrativistas do Marajó (Cemem), ela afirma que não há como dissociar esse conhecimento das políticas públicas para a promoção da segurança alimentar e nutricional, tema do 1º Encontro Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional na Amazônia, que começou na terça-feira (9), em Belém.

"Entendemos que não existe segurança alimentar sem as plantas medicinais. Na nossa comunidade, por exemplo, a comida dos idosos, das gestantes e das crianças vem acompanhada das plantas da região. Temos que evitar a extinção desse conhecimento. A sobrevivência da floresta depende unicamente do nosso conhecimento tradicional”, diz.

Para Edna, o encontro também é uma oportunidade para debater as políticas públicas voltadas para os povos tradicionais. “Sabemos que, para se desenvolver, temos que ter políticas públicas. E nós já temos, só precisamos que elas sejam implantadas.”

Na abertura do evento, a secretária adjunta de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Lilian Rahal, falou sobre o desafio do ministério para encontrar as famílias que ainda vivem em situação de insegurança alimentar na Amazônia. “Queremos chegar até essas famílias vulneráveis para garantir o acesso às ações e mudar o patamar de vida da população”, destacou.

Lilian disse ainda que, no encontro em Belém – o primeiro de uma série de eventos temáticos preparatórios para a 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – serão debatidas as ações que estão sendo implementadas na região, como a Inclusão Produtiva Rural. “Queremos ouvir e discutir para convergir as nossas ações, em parceria com os estados e os municípios da região”, afirmou.

A secretária aproveitou a presença, na mesa de abertura, do secretário estadual de Trabalho e Assistência Social do Pará, Heitor Pinheiro, para falar sobre o pacto federativo que será lançado em breve pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan). “O governo federal vai convidar estados e municípios para um grande pacto federativo pela garantia da alimentação saudável.”

Na ocasião, a presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emília Pacheco, ressaltou que o evento temático marca o início do processo da conferência nacional - marcada para novembro, em Brasília. “Há uma simbologia muito grande na realização deste encontro aqui na Amazônia, esse importantíssimo bioma, que tem um sentido nacional”, disse.

A presidenta lembrou dos diversos aspectos do bioma, como “a riqueza da biodiversidade da Amazônia, o seu valioso patrimônio cultural, o conhecimento tradicional de seus povos sobre as plantas medicinais e comestíveis, frutos, sementes, raízes, peixes e fauna silvestre”.

Segundo ela, “esse valioso patrimônio deveria representar uma abundante oferta e utilização de proteínas, vitaminas e minerais para garantir a saúde, a segurança alimentar e nutricional e a qualidade de vida de sua população, mas infelizmente não é isso que ocorre”. “Cerca de um milhão de pessoas na região ainda sofrem algum tipo de insegurança alimentar e o consumo de frutas e hortaliças tem sido um dos mais baixos [do país]”, disse ela, em alusão aos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad).

O encontro temático prossegue até esta quinta-feira (11) e é promovido pelo Consea, com o apoio da Caisan, que é coordenada pelo MDS.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, com informações do Consea