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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Uma proposta de exercício e de ética da escuta para quem não é vítima de racismo, por Idelber Avelar

Uma proposta de exercício e de ética da escuta para quem não é vítima de racismo, por Idelber Avelar

Por racismoambiental,

(Texto dedicado à família Miguel)

À raiz do debate de semana passada na Al Jazeera, voltaram a acontecer, no meu Facebook, email e Twitter, algumas discussões sobre racismo brasileiro que, apesar sempre saudáveis, com frequência repetem uma dinâmica bastante comum no país. Aprendi, com os anos, que essa dinâmica tem que ser descrita com cuidado, para que a própria descrição não termine reforçando-a. Eu me refiro à dinâmica estudada pela Ana nesse texto magistral, Não é sobre você que devemos falar.

Trata-se de um dos maiores obstáculos que se enfrenta no combate ao racismo brasileiro, e ele pode ser resumido mais ou menos nos seguintes termos. Os brancos brasileiros tendemos a acreditar sinceramente, a crer piamente, a estar convictos, de que sabemos o que é o racismo sem jamais termos feito o exercício de escutar suas vítimas. A dinâmica se agrava pelo fato extraordinário e mui curioso, bastante próprio do Brasil, de que 86% dos brancos brasileiros afirmam não ter preconceito contra negros, mas nesse mesmíssimo universo, 92% reconhecem que existe racismo no Brasil.

Conclusão: o branco brasileiro se acha uma ilha de tolerância cercada de racismo por todos os lados, racismo ao qual, curiosamente, ele se crê imune. É um caso inédito na história da sociologia. Ao mesmo tempo em que se crê imune, o branco brasileiro tende a ter, sobre o fenômeno, uma opinião bastante convicta, sem jamais ter tomado a iniciativa de tentar escutar um negro sobre o que é ser vítima de racismo. O branco não vê, nessa atitude, nenhuma herança racista. Continue lendo… 'Uma proposta de exercício e de ética da escuta para quem não é vítima de racismo, por Idelber Avelar'»