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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Salvador é a segunda capital menos católica do país, segundo FGV

 

Clarissa Pacheco

Agência A TARDE

17,07% dos pesquisados na Bahia se dizem sem religião

17,07% dos pesquisados na Bahia se dizem sem religião

O Brasil  pode deixar, em duas décadas, de ser o País mais católico do mundo. E a Bahia, palco do sincrestismo religioso e cuja capital abriga 365 igrejas católicas, já caminha no mesmo ritmo. Um estudo divulgado nesta quarta-feira (24) pela FundaçãoGetúlio Vargas, através do Novo Mapa das Religiões (www.fgv.br/cps/religiao), mostra a capital Salvador como sendo a segunda no País com maior percentual de pessoas que afirmam não ter religião (17,07%), perdendo apenas para Boa Vista (RR), com 21,16%.

A situação do Estado e da capital, Salvador, destoa do que apresenta o estudo com relação à região Nordeste, que foi apontada como a mais católica do Brasil, com 74% de adeptos e a terceira mais religiosa. Das nove capitais nordestinas, apenas Salvador e Recife não figuram entre as dez mais católicas do País.

Para o sociólogo e antropólogo Ordep Serra, a queda no número de católicos não surpreende. “O catolicismo vem perdendo espaço não só na Bahia, mas no Brasil de um modo geral. O que me surpreende é esse número elevado de pessoas sem religião, mas é muito recorrente aqui na Bahia que as pessoas, mesmo se dizendo sem religião, recorram a serviços religiosos quando passam por alguma aflição”, explicou.

Outro dado apresentado pelo estudo e que chega a surpreender é a quarta colocação da Bahia entre os estados com maior número de adeptos das religiões de matriz africana. Apenas 0,33% dos baianos disseram ser fiéis das religiões de matriz africana, ficando atrás do Rio de Janeiro (1,61%), Rio Grande do Sul (0,94%) e São Paulo (0,42%).

O resultado da pesquisa causou estranhamento entre pesquisadores da área. Para a socióloga Carmem Cunha Félix, o resultado não condiz com a realidade do Estado, nem da capital. “Se você perguntar à maioria da população, ela não vão acreditar nesse resultado. A Bahia tem a maioria de afrodescendentes e boa parte deles frequenta o Candomblé. O que a gente sabe é que existe um preconceito com os que frequentam e muitos deixam de declarar”, ponderou.

Ordep Serra concorda e também atribui o resultado ao preconceito. “Não sei em que bases a pesquisa foi feita, mas como sociólogo e antropólogo, posso dizer que, ainda hoje, há muitos adeptos das religiões de matriz africana que não o declaram para fugir de uma discriminação que é forte, de um quadro de intolerância religiosa”, completa o estudioso, que também tende a acreditar que o resultado não seja condizente com a realidade baiana.

Catolicismo  - O relatório mostra que atualmente o percentual de mulheres católicas (71,3%) é menor do que o de homens (75,3%) no País. “Acima de tudo, acho que seja a chamada revolução feminina. Poucas coisas mudaram mais no cotidiano das pessoas do que questões como trabalho e anticoncepção entre as mulheres. O fato é que, embora as mulheres sejam bem mais religiosas do que os homens, elas são menos católicas, talvez por uma questão de afinidade”, disse Neri.

O Novo Mapa das Religiões revela que o sexo feminino representa a maioria entre adeptos de 23 das 25 religiões listadas como as mais populares pela pesquisa, como a católica, a evangélica pentecostal, a evangélica tradicional, a espírita kardecista, a luterana e a umbanda. Segundo o documento, enquanto os homens abandonaram crenças, elas mudaram de religião. “O catolicismo, o candomblé e o budismo são religiões masculinas. Todas as outras são basicamente femininas”, acrescentou o coordenador.

A pesquisa da FGV mostra que o Brasil vai de encontro à tese do sociólogo alemão Max Weber que associa a situação econômica à opção religiosa. “O Brasil talvez seja o grande contraexemplo dessa tese. Os Países mais tradicionais europeus estão passando por grande dificuldade econômica e todos os maiores são essencialmente católicos. Já entre o Brics [Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul], o Brasil é o maior [em relação à economia e a adesão ao catolicismo]”, avaliou Marcelo Neri.