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sexta-feira, 8 de junho de 2012

O DIA EM QUE GANHAMOS O MORRO DA POLÍCIA

A tarefa não foi fácil. Primeiro convencer numa Oficina do Projeto Porto Alegre cc, um grupo inteiro a votar por unanimidade numa causa. Segundo vender a imagem de um produto que estava com a própria imagem abalada, por situar o Presídio Central e por ser rotulado pela fala fácil do preconceito contra as periferias, e terceiro: conseguir sensibilizar gestores e lideranças comunitárias para dialogar sobre possibilidades humanísticas de mobilidade urbana, territorialidade e saúde da população daquela localidade. Lá é perigoso! dizia um, outra dizia é lindo e maravilhoso! Que desafio! Coisas para quem não teme subir todos os dias as ladeiras acidentadas e batalha resistindo as adversidades, tendo como lenitivo o local lindo que a comunidade chama de Morro da Polícia. Poucos sabem,mas é um dos locais mais seguros da capital gaúcha, um dos mais bem guarnecidos, pelo contingente bélico das Forças Armadas que abriga corporações da BM, Operações Especiais e Regimento Osório. Baba Xandeco de Xangô, sacerdote de matriz africana, pautou corajosamente uma causa com o tema morro, quando tudo indicava o centro da cidade. Falou se quisermos uma causa diferente vamos visitar os invisíveis da favela! : Vamos Subir o Morro da Polícia para conhecermos suas belezas e seus problemas! E buscarmos soluções. Assim foi! Porto Alegre eu cuido, eu curto dizia na sua camiseta. No dia e hora marcados lá estavam todos vestindo branco, Mãe Vera Maria de Iansã a primeira a chegar. Em seguida outros...mais outros e mais de sessenta pessoas se aglutinavam no Morro. Gente de todos os bairros da cidade. Gente de todas as etnias e credos. Rezas africanas, cristãs, tambor, pipocas e atã de Ogum. Izabel entusiasta, ao microfone do carro de som apresentava o Projeto cc e garantia os pedidos daquele povo, Baba Xandeco rezava em yoruba pedindo a axé aos Orixás, Plinio recepcionava a todos congratulando com Antonio Matos em nome das lideranças ali presentes. Pronto! Estava dada a benção e a largada para a escalada dos 287 metros de altitude do Morro. O pessoal do grupo de Jovens Papo Cabeça, fez apresentação de hip-hop, Marli Aquino do IBGE, entregou uma mensagem de otimismo e fé na vida para os participantes, além de Baba Xandeco declarar seu amor a Porto Alegre, numa poesia muito aplaudida. Neste dia, as crianças após o café da manhã no terreiro, subiram felizes na frente da trilha de gente bonita, com chimarrão, pipoca e sorriso no rosto de um morro que mostrou-se encabulado, se escondendo entre a neblina que misticamente defumava aquela procissão. Queríamos mais que vencer os metros adiante, tínhamos que falar da dificuldade do acessibilidade quando de um doente nos becos da comunidade, do ônibus que nos deixa longe das nossas residências, e do HIV/Aids, tuberculose que o Movimento Popular de Saúde fizera questão de trazer a tona. Queríamos dar nosso recado...queríamos coroar nossas reivindicações com a luz do sol. Muitas fotos e admiração tomavam conta dos presentes. As falas todas construtivas, a circularidade e o eco do próprio nome demarcando o território conquistado e as mãos dadas. O sol não resistiu e sorriu naquele momento.Momento das defesas das premências da comunidade, na fala de Baba Xandeco ao ler o abaixo assinado, eis que o firmamento se abre e a luz do sol, corta as nuvens e doura todos os momentos de reflexões, buscas, trocas, encantamentos, perspectivas, mas principalmente de esperança, de que de mãos dadas, é mais dificil cair..é mais fácil caminhar. Assim descemos todos ufanados confiando que amanha vai ser outro dia! Mas nunca mais será esse mesmo dia que subimos e ganhamos o Morro da Polícia.

Email; Recebido para postagem de Baba Xandêco no dia 07 /06/2012