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segunda-feira, 18 de abril de 2011

O racismo, como uma sociedade anônima, não permite a afirmação dos diferentes.

 

Arísia Barros

http://www.cadaminuto.com.br/blog/raizes-da-africa

Piracicaba é um município no interior do estado de São Paulo surgida em 1º de Agosto de 1767, a partir da cultura da terra e dos engenhos de cana-de-açúcar.

Localizada em uma das regiões mais industrializadas e produtivas de todo do estado, em tupi-guarani Piracicaba que dizer o lugar onde o peixe para.

É um importante pólo regional de desenvolvimento industrial e agrícola, em franco desenvolvimento do estado de São Paulo.

O tradicional Colégio Piracicabano foi pensado pela norte-americana Martha Watts e traz em sua história os valores tradicionais do ensino exclusivo. O Colégio deu origem a Universidade Metodista de Piracicaba que hoje conta com cerca de dez mil aluno@s, todos na sua maioria branca.

João Manoel dos Santos, ex-sindicalista, traz na pele a descendência africana em um território em que o racismo é um valor cultuado pelo androcentrismo do Estado.

João Manoel é o único parlamentar negro nos espaços de poder da Câmara de Vereadores, em Piracicaba, São Paulo. Com seis mandatos, como vereador é a terceira vez assume a presidência da Casa Legislativa.

O presidente, ex-sindicalista, representa na Câmara de Vereadores de Piracicaba o desdobramento das ondas de avanços e refluxos que marcam a questão da ocupação dos espaços de poder dos afrodescendentes nas terras de Cabral.

O primeiro presidente negro da Câmara de Vereadores de Piracicaba foi o advogado Antonio Messias Galdino, em 2006.

O Projeto Raízes de Áfricas, representação do movimento social negro alagoano, em audiência concedida pelo presidente João Manoel e ocorrida no gabinete da presidência, dia 12 de abril, conheceu diversos programas e projetos propostos pelo vereador-presidente, que visam trazer cidadania para a população piracicabana, acrescendo aspectos estratégicos e diferenciais que contemplam a população negra local.

Parceiro do II Ciclo Nacional de Conversas Negras: Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta, que acontecerá no período de 25 a 27 de agosto, no Salão Nobre da Câmara de Vereadores em Piracicaba, o ex-sindicalista, afirma a necessidade de cultivar os espaços conquistados pela ampla maioria minorizada, dentre ela, a população de pele preta, e do enorme interesse, como cidadão e parlamentar, para criação de espaços de discussão, que envolvam esforços

concentrados da sociedade piracicabana para mudança dos paradigmas.

O II Ciclo Nacional de Conversas Negras: “Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta” é uma idealização do Projeto Raízes de Áfricas e surge como prosseguimento da ação iniciada em Maceió/AL, em agosto de 2010.

Alagoas é o penúltimo estado brasileiro em área territorial. Sergipe é o último. Por ser rodeado de águas o estado recebeu de seus colonizadores o nome de região de Alagoas.

O domínio pela terra e a cultura dos engenhos marcam os cinco séculos da história do estado.

Alagoas é a terra negra do invisível Quilombo dos Palmares, de onde ecoou um dos primeiros gritos de liberdade do Brasil.

Os 23 anos de João Henrique Caldas são marcados pelas histórias ouvidas na infância sobre Zumbi, o Quilombo, a República Palmarina num misto de contos-de-fadas recheado de heróis negros, indígenas, brancos e etc e coisa e tal.

Diferenciada de tantas e muitas crianças, João que cresceu em um meio exclusivo, longe das mazelas da pobreza, via em Zumbi um herói como afirmação de uma identidade nacional.

A sociedade do qual o menino João fazia parte percebia o negro como história anônima. João mesmo em terras distantes recusava a versão da história plantada em seu entorno. Não concebia o negro como o inimigo-estrangeiro.

O menino cresceu, foi estudar na Austrália e descobriu as estratégias inteligentes, o modo de fazer e pensar a história no país australiano, os muitos rituais, danças e cerimônias aborígenas cultuadas como tradições ancestrais.

Turistas do mundo todo visitam anualmente pontos turísticos e culturais da Austrália. É um dos países que se destacam pela excelência, no turismo internacional.

A competência de transformar a história australiana em destinos turísticos motivou João Henrique a compreender o imperativo do apartheid turístico nas terras de Zumbi e a perceber as possibilidades de transformar a primeira República negra do Brasil,o Quilombo dos Palmares,na Serra da Barriga, em um grande destino turístico, cultural e econômico.

A Serra da Barriga abriga hoje o Parque Memorial Quilombo dos Palmares que é o primeiro complexo arquitetônico de inspiração africana de todas as Américas e o único parque temático cultural afro-brasileiro do continente americano.
Durante a visita ao Brasil de Barack Obama, João, agora deputado estadual no parlamento alagoano, propôs o estabelecimento de pontes políticas entre a República Palmarina e o primeiro presidente negro democrata dos Estados Unidos. Riram na cara dele!

O racismo, como uma sociedade anônima, não permite a afirmação dos diferentes.

A convite de João Henrique Caldas fomos revisitar a Serra da Barriga com o olhar plural das muitas formas e possibilidades de resgatar espaços que a partir das insuficiências e da indiferença sócio-política, podem ser carcomidas pela pausterização da cultura eurocêntrica.

Mesmo com a historicidade e ancestralidade das lutas pela liberdade e equidade humanas, o panteão da história negra brasileira, em Alagoas vive às moscas e às galinhas que despreocupadamente ciscam por ali.

O senhor João Manoel, o parlamentar negro, presidente pela terceira vez da Câmara de Vereadores de Piracicaba em São Paulo e o jovem João Henrique Caldas, em seu primeiro mandato como deputado estadual, em Alagoas, mesmo, que geograficamente distantes são porta-vozes de que é preciso interpelar o silêncio social e instigar positivamente outros caminhos da liberdade...

Foi graças à parceria de João Henrique Caldas que estivemos em audiência com o presidente João Manoel concretizando bases estruturais para a realização do II Ciclo Nacional de Conversas Negras, em agosto.

O grande desafio da caminhada étnica é o estabelecimento de incentivos sistemáticos e estruturais que anunciem o confronto com o meu, o seu, o nosso racismo brasileiro.

Penso que o parlamento é o caminho...

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