Publicado em 28 de janeiro de 2012 por Victoria Almeida
A ilustração do livro ficou a cargo do artista Cau Gomez
O período compreendido entre o fim de século 19 e os anos 1970 foi crucial para a Bahia. Foi nesse intervalo de tempo que o (hoje corrompido) conceito de baianidade surgiu e se consolidou no inconsciente coletivo.É uma das figuras mais importantes na construção deste conceito foi Mestre Pastinha (1889-1981), o maior praticante e divulgador de capoeira angola desde sempre.
Depois de contar a história do capoeirista no livro Pastinha, o Grande Mestre da Capoeira Angola (Série Gente da Bahia, editado pela Assembleia Legislativa em 2009), escrito em parceria com Otto Freitas, o jornalista José de Jesus Barreto volta ao personagem histórico no encantador Pastinha: O Menino que virou Mestre de Capoeira.
Dirigido ao público infantojuvenil e ilustrado pelo artista Cau Gomez (da equipe de A TARDE), o livro sai pela editora local Solisluna e tem lançamento nesta sexta-feira em Salvador.
“O livro da série Gente da Bahia teve uma procura muito grande, porque ainda não havia nada sobre Pastinha. Aí o pessoal da Solisluna entrou em contato comigo com a ideia de um livro para crianças, em cima daquela história”, conta José.
Para encurtar a história, o autor extraiu o grosso da narrativa para o livro ilustrado de uma longa entrevista que Pastinha concedeu a Roberto Freire para a revista Realidade, em 1967.
“Foi nessa entrevista que ele contou como um velho capoeirista angolano, Benedito, lhe ensinou a capoeira, para ele não ficar apanhando dos outros meninos no Pelourinho”, conta.
“O livro conta essa história quase na íntegra. Depois fala um pouco do que é a capoeira, o berimbau, os principais golpes”, descreve. “Depois eu e Eneas Guerra (da Solisluna) escolhemos Cau Gomez, que é premiadíssimo e tem um trabalho fantástico, para ilustrar”, diz.
“Graças aos desenhos de Cau, o livro se transformou numa pequena obra de arte”, elogia. Para Zé de Jesus, Pastinha ainda foi muito mais do que um mestre de capoeira. “Ele era um filósofo, um pensador. É um orgulho muito grande falar de Pastinha, um verdadeiro mito ao lado de Caymmi, Jorge Amado, Pierre Verger – o pessoal que fez a Bahia ser o que é”, afirma.
“Infelizmente, a Bahia é muito ingrata com seus filhos mais valorosos. O baiano reconhece muito pouco os seus heróis. Hoje, ele só se interessa em remexer a bundinha”, dispara.
Esculpindo Pastinha - Já Cau Gomez espera iniciar uma nova fase na carreira com mais este belo trabalho. “Esse livro é meu xodó, eu o vejo como um passaporte para uma linguagem nova para mim, que é a literatura infantojuvenil”, diz.
Para Cau, o mais difícil foi criar a imagem do Pastinha menino, devido à escassez de documentos dessa fase de sua vida. Como talento e inteligência não lhe faltam, logo o artista criou um método próprio.
“Como no You Tube tem muito material do Pastinha, eu dava pause na imagem dele e ia congelando o frame em vários ângulos diferentes”, conta.
“Aí fui tentando achar a figura dele criança. Foi como esculpir com a imaginação, a partir dos diversos ângulos do rosto do Pastinha. Depois de alguns esboços, cheguei na imagem que está no livro. Foi um grande desafio”, descreve.
Cau, que já jogou capoeira regional, conta que outro atrativo para ele foi a sensibilidade artística. “É uma história difícil, ele sofreu a perseguição que hoje é chamada de bullying, mas superou através da capoeira. E era muito sensível às artes, à pintura, estudou no Liceu de Artes & Ofícios, é uma história maravilhosa”, conclui.
Serviço
Lançamento do livro “Pastinha: O menino que virou Mestre de capoeira”, de José de Jesus Barreto e Cau Gomez
Local: Livraria Cultura do Salvador Shopping
Data: sexta-feira, às 18h
Fonte: A tarde – Chico Castro Jr