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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Despedida do Abdias Nascimento

Depois de fechar meu lounge, ontem à noite, no Fashion Business, fui ao velório do amigo tão estimado Abdias Nascimento, despedir-me dele, dar meu abraço à viúva,Elisa Larkin, e a seu filho, também meu amigo, Osiris Nascimento, um jovem e talentoso cineasta. Já eram mais de nove horas e a Câmara de Vereadores estava cheia de amigos, com o batuque negro fazendo seu lamento desde a escadaria. Verdadeira multidão de admiradores (até Lula foi!) da luta e da obra deixada por Abdias, tendo, sempre ao lado, solidária na militância, sua mulher americana, Elisa. Numa homenagem ao marido, ela vestiu uma roupa branca e preta de estampa afro. E também o corpo de Abdias, no caixão meio coberto pelas bandeiras do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil, vestia um traje africano, até com aquele chapéu típico. E um detalhe inusitado: Abdias usava óculos. Achei interessante, pois nunca antes havia visto assim num velório. Depois, soube que o pessoal da funerária reagiu contra, mas foi o filho do líder negro, Osiris, quem insistiu que seu pai se despedisse dessa forma, de óculos, como todos o conheciam. E, diante de Abdias, exatamente aquele que conheci, com seu par de óculos de aro fino, rezei por ele as orações de minha religião católica. Pedindo que, lá do Céu, onde ele certamente está, continue a inspirar homens e mulheres bravos, como ele foi, a levantarem a bandeira contra o preconceito racial, buscando evidenciar e valorizar as qualidades e os talentos do povo negro, força do trabalho e das tantas realizações magníficas deste nosso imenso Brasil...

Abdias partiu como sempre foi: por inteiro, um homem íntegro! Esta a simbologia, para mim, daquele par de óculos do qual Osiris não quis abrir mão...

abdias1 Despedindo de Abdias

Abdias Nascimento, com seu inseparável par de óculos de aro fino, ao lado de sua companheira solidária nas lutas contra o preconceito racial e pela inclusão do negro no Brasil, Elisa, recebe em Brasília homenagem de Lula, quando este ainda era.

FONTE:  Hildegard Angel